O que fazer para prevenir ansiedade no meu cão quando terminar o período de isolamento?

O que fazer para prevenir ansiedade no meu cão quando terminar o período de isolamento?
Devido ao confinamento obrigatório, os animais de estimação vão estar 24 horas com a família humana em casa. Isto poderá a levar a problemas de adaptação quer agora, quer depois, quando a vida retomar a “normalidade”.
Qualquer alteração na rotina habitual do animal pode causar alguma ansiedade / stress, pelo simples facto de ser algo ao qual o animal não está habituado. No caso de comportamentos manifestos, com a presença do dono, podem não ser tão evidentes, mas um exemplo, será a constante procura do dono / família como forma de obter atenção e afecto, o que revelará alguma carência afectiva, ao mesmo tempo que a poderá alimentar. Em relação à alimentação, é um resultado possível, que se dêem mais biscoitos ou comida fora da refeição habitual, o que não será um problema se for canalizado como forma de estimulação cognitiva ou exercício físico, sendo fundamental no entanto, depois adequar as quantidades da refeição, para não fornecer ao animal, mais alimento do que aquele que efectivamente necessita e consequentemente levar a problema de excesso de peso e obesidade. Além disso, nesta fase que estamos mais presentes, o cão poderá começar a manifestar alguns comportamentos que até então não tínhamos noção, podendo ser problemáticos ou não. Ou que até já ocorriam, mas como não estávamos em casa não tínhamos consciência deles. Por outro lado, a própria presença constante do dono, pode também ela levar a alguns comportamentos, como por exemplo, a hiper-excitação.
No caso dos cães, provavelmente muita famílias alteraram os horários em que os levavam à rua, assim como as rotinas de alimentação. Talvez algumas até os levam a passear mais vezes para elas próprias poderem circular na via pública. De que forma isso poderá afectar os cães quando a família voltar às rotinas normais - o que poderá ainda levar algum tempo.
O ideal será manter as rotinas o mais próximo do habitual possível, porque temos de ter em conta que as coisas voltarão à normalidade, e será nessa altura, que os problemas de ansiedade poderão ter uma manifestação mais evidente. De uma presença constante da família / dono, passamos para uma ausência súbita desta companhia e será com essa ausência que o animal revelará maior desconforto. Cães com muita dependência do dono, que não conseguem estar sozinhos num espaço ou divisão quando o dono está em casa, etc, serão à partida, os que representam mais risco nessa altura. Mas também é importante referir que muitos cães adaptam-se muito bem às mudanças, nem todos serão problemáticos, mas devemos agir com prevenção.
Da mesma forma que é importante para nós termos rotinas neste período, é também importante ter essas rotinas na vida dos animais, mas até que ponto é que têm de ser iguais às anteriores ao confinamento?
Para os animais, acaba por ser ainda mais importante haver alguma estabilidade do que para nós; isto porque, nós (humanos) somos inteiramente responsáveis por eles e ainda mais, porque nós temos consciência de tudo o que está a acontecer e das implicações, os animais não. Logo, para que não sofram com a nossa ausência mais tarde e com novas mudanças de rotinas, devemos ser consistentes e tentar manter as rotinas o mais próximo da normalidade. Não devemos porém, criar rotinas também demasiadamente estritas e imutáveis - comer a hora certa, passear à hora certa, passear sempre ao mesmo local - introduzir alguma variedade também poderá ajudar o animal a lidar com as mudanças, no entanto, nada pode ser feito de forma muito rígida. Flexibilidade também pode ajudar o cão a lidar com imprevisibilidades. A estabilidade é importante, mas isso não quer dizer que as rotinas quase matemáticas são benéficas - podem não ser.
Que problemas psicológicos/comportamentais nos cães poderão surgir devido a este período de isolamento social?
Existem alguns problemas que poderão surgir neste momento e também depois, quando a vida voltar à normalidade. São eles a Hiper-excitação, a Ansiedade por separação; o Hiper-apego, a ansiedade generalizada, entre outros mais específicos. O que é importante reter em relação a estes mesmos problemas, é que eles não se manifestam da mesma forma em todos os animais e têm diferentes graus de gravidade / intensidade. Além de que, o mesmo problema de comportamento, poder-se-à manifestar de formas completamente diferentes de animal para animal. No caso de ser evidente a implicação no bem-estar do animal, é recomendável contactar um profissional na área do comportamento.
Dicas para que os animais (e consequentemente a família humana) consigam regressar à normalidade sem grandes efeitos negativos?
Manter as rotinas o mais próximo do habitual possível, com abertura para algumas alterações (que serão inevitáveis); se a situação se prolongar bastante (meses) as pessoas deverão fazer um planeamento e gradualmente, quando a normalidade estiver prevista, aí, retomar o mais rápido possível e de forma progressiva, as rotinas que voltarão a fazer parte do quotidiano no animal.
Podem haver algumas alterações (e elas terão de existir senão é sinal que não estamos a cumprir o nosso dever de isolamento social), no entanto, cada família deverá procurar um equilíbrio e perspectivar a curto/longo prazo como serão as rotinas aquando a normalidade, e tentar aplicá-las o máximo que consiga..
Trabalhar a autonomia do cão é importante. Muitos donos estão agora em casa 24 horas por dia e para quem mora em apartamento, a questão da autonomia e independência do cão é mais difícil de simular / trabalhar. No entanto, isto pode ser conseguido por exemplo através de jogos interactivos e de estimulação cognitiva, ossos para roer e outros materiais apropriados em que o animal é estimulado a estar concentrado nessas actividades mas numa divisão que não aquela que a família / dono está. Isto não quer dizer que tenhamos de fechar o cão numa outra divisão - o estar focado, no seu espaço enquanto nos movimentamos pela casa e fazemos as nossas tarefas e ele permanece no seu espaço, entretido. O ideal será aproveitar esta fase para ensinar o cão a estar sozinho, porque efectivamente é algo que terá de fazer no futuro e que até agora o fazia. Aproveitar o regresso do passeio por exemplo, ou após ter feito algum exercício físico para criar estes momentos ao cão. Nestes momentos, volto a reforçar, é muito importante garantir entretenimento e estimulação cognitiva do seu cão. Cabe-lhe a si descobrir que tipo de coisas o cão aprecia porque todos os cães são diferentes.
Os passeios devem ser os mesmos que até então e os mesmos que terá quando a vida voltar à normalidade e por exemplo, cães que nunca passearam, não faz sentido passear agora (como desculpa para sair à rua) e depois na normalidade, deixar de o passear - volto a referir, os cães devem manter as rotinas minimamente que tiveram até agora e que retomarão depois de terminar o isolamento social. Uma vez que os passeios mais longos que implicavam viagens de carro para o fazer deixarão de existir, compense com um passeio mais prolongado nas imediações da sua casa (se a localidade assim o permitir, claro).


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